O cigarro mata 50% de seus usuários e há
um alto índice de novos fumantes entre os jovens universitários
THAYANA BRUNO
A
pesquisa tem o objetivo de analisar a associação entre tabagismo, o nível de
funcionamento geral da família de origem e a genética, é o que explica a médica
pneumologista, Keyla Medeiros Maia da Silva. Keyla atua no Hospital
Universitário Júlio Müller e o estudo é parte de sua tese de doutorado é desenvolvida na Universidade de São Paulo, em parceria com a UFMT e apoio da
Universidade de Toronto.
O
objeto da pesquisa são estudantes, técnicos e demais funcionários da UFMT. Na
atual fase do trabalho se realiza a coleta dos dados. Para isso, são utilizados
um questionário que pretende verificar lembranças e a influência da estrutura
familiar para o fumo, a medição do nível de monóxido de carbono presente no
pulmão da pessoa participante e a coleta de 10 ml de sangue para identificação
da propensão genética para o fumo, os chamados marcadores de nicotina.
Sobre
a medição do nível de monóxido de carbono no pulmão, a Keyla explica
que o índice aceitável varia entre zero e seis. Acompanhamos o participante
João Manoel de Sá, estudante do 5º semestre de Serviço Social, na realização do
teste, e você confere o resultado no vídeo abaixo.
João
se surpreendeu com o resultado, e acredita que a maior motivação para fumar seja
a ansiedade. Seria uma compensação, um momento de alívio diante da tensão do
cotidiano, como durante intervalo de aulas, do trabalho etc. Ele tem 20 anos e chega
fumar até uma carteira de cigarro por dia. O estudante já parou de fumar
algumas vezes, mas acabou voltando pela mesma razão. Pensa em parar de fumar
como um plano para o futuro, mas crê que somente políticas públicas como
campanhas educativas, de redução de danos e de acolhimento do serviço de saúde
pública desses dependentes é que poderá obter resultados satisfatórios no combate ao tabagismo. “A política do governo
tem sido voltada para oneração cada vez maior do cigarro, todo ano o imposto do
cigarro sobe. Isso não inibe o fumo, isso só onera mais o trabalhador que fuma”. Pelo menos 14 dos 20 cigarros de uma carteira são para pagar
impostos.
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Dra. Keyla Maia e o estudante João de Sá realizam teste do monóxido de carbono. (Foto: Thayana Bruno) |
Fumar
já não possui o charme que outrora emprestava credibilidade e glamour. O conhecimento das consequências à saúde para
fumantes ativos e passivos chegou a criar um clima de vigilância e a suscitar a
criação de leis antifumo, como o caso da lei federal número 12.546 regulamentada em 2014 (leia na íntegra aqui), que proíbe
o fumo em ambientes coletivos, em que estejam duas ou mais pessoas. Proíbe
também o fumo em ambiente que possua qualquer tipo de cobertura ou parede. “No entanto,
é comum encontrar pessoas fumando nesses espaços, como em cantinas e saguões,”
constata Keyla.
A
pneumologista se diz bastante impactada com o grande número de fumantes na
universidade, e o que a pesquisa tem revelado é o grande número de novos
fumantes com idade entre 19 e 24 anos. “Tem muita gente fumando narguile, pensando que não é tabaco, fumando paiero com a justificativa de que é natural, mas
cada paiero conta três cigarros industrializados. Ele é mais nocivo à
saúde do que os cigarros industrializados”.
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Estudante de Serviço Social - João Manoel de Sá (Foto: Thayana Bruno) |
Embora
haja movimentos contrários, a pesquisadora observa que a veia contestadora e de
autoafirmação desses jovens fazem com que fumem e não tenham a perspectiva de
abandonar o vício, e declara que “uma das perguntas do questionário é se eles
querem parar de fumar, e a grande maioria responde que não. Como se eles tivessem
o domínio da situação. Na verdade, a dependência química é traiçoeira, e quando
você percebe, está totalmente enlaçado. Parar de fumar é totalmente possível,
mas dá um trabalho danado”.
A
médica é incisiva ao afirmar que “o tabaco é um serial killer! Ele mata 50% dos
usuários. Causa acidente vascular cerebral, infartos, mais de 20 tipos de tumores. É a única substância que é vendida hoje em prateleira, com registro
na ANVISA, o órgão que regulamenta a saúde, que vai matar 50% das
pessoas. Isso é uma aberração vivida no Brasil e no mundo. No máximo, isso deveria ser controlado e doado com supervisão como
dependência química, e não ter a liberdade de entrar no boteco, sair com uma
carteira de cigarro e ainda pagar imposto”.
A
pesquisa acompanhará 300 pares de fumantes e não-fumantes, um tabagista e seu
controle, esclarece Keyla. O técnico de laboratório do HUJM, Alan Lewandovski,
acompanha Keyla para a realização da coleta do sangue e se diz impressionado
com o alto número de jovens fumantes com histórias familiares tristes. Ele
afirma que a maioria é de jovens com idade de 18 a 24 anos. “Começamos a
pesquisa prática na Universidade em julho e seguimos até o dia 4 de dezembro. Dos 300, faltam agora 36 pares.”
Há
um serviço de tratamento para tabagistas no Júlio Müller que possui
apenas dois ambulatórios, mas é aberto à população da capital. Mais informações poderão ser obtidas através do telefone (65) 3615-7238.
Se você é fumante, quer parar de fumar e precisa de mais suporte informativo, acesse os links abaixo: