sábado, 9 de maio de 2015

Pernilongos na UFMT: um ciclo que precisa ter fim

Praga presente no campus de Cuiabá incomoda quem o frequenta

JHENIFER HEINRICH
THAYANA BRUNO

Normalmente, é no verão que mais sofremos com os pequenos - e nada bem-quistos - pernilongos. Porém, na Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT] esses insetos não têm preferência de estação: o ano inteiro, incomodam alunos, professores e técnicos, além de não terem preconceitos com a noite ou o dia.

Para entendermos as razões pelas quais esse incômodo persiste no campus, alguns dados sobre a incidência da dengue em todo país, divulgados pelo Ministério da Saúde, podem auxiliar. Mato Grosso figura como destaque em uma alarmante estatística que revela o crescimento da doença em todo o território nacional: houve um aumento de 63% nos casos da doença. Já foram registradas 6.434 ocorrências em todo o Estado em 2015. Em 2014, o número apurado foi de 3.934 casos. Uma comparação entre as regiões coloca o Centro-Oeste como líder: são 560,7 casos para 100 mil habitantes, correspondendo a 85.340 registros no período de janeiro até metade de abril. Em todo o país, o número de contágio teve um aumento de 293%. 

Você pode conferir aqui aqui um comparativo dos números da dengue em todas as regiões do país em 2014 e 2015.




E qual a razão para a UFMT sofrer com a infestação dos bichinhos durante todo o ano, não apenas no período chuvoso? Precisamos tomar nota sobre eles: foi constatado pelo Comitê de Prevenção das Leishmanioses e pela Comissão de Controle de Dengue da UFMT que a universidade abriga dois tipos de pernilongos muito comuns, que possuem hábitos diferentes. O mais frequente é o tipo cúlex. Esse pernilongo costuma agir durante as noites, podendo também atacar ainda no início da manhã e já recomeçar as atividades no final da tarde. Além desses, o campus é infestado pelo tipo aedes aegypti, que tem hábitos diurnos. Por isso, quem frequenta os blocos da universidade não tem um momento sequer de sossego!

A bióloga e presidente da Comissão de Controle de Dengue da UFMT, Rosina Djunko Miyazaki, pesquisa esses insetos há mais de 10 anos. Ela afirma que nunca deixou de lado a pesquisa porque entende a importância do tema e o perigo que esses insetos representam para a vida dos seres humanos, além de animais domésticos e silvestres. Rosina atribui a grande incidência de pernilongos no campus de Cuiabá a diversos fatores. Um deles [e o mais grave] é o descuido das pessoas que frequentam a universidade em manter os locais limpos, desde vasos de plantas até o mais simples copo plástico jogado no chão. Porém há um fator natural presente nas extensões da UFMT, que são os bosques.

[Foto: Jhenifer Heinrich]

Os bosques abrigam esses insetos entre as folhas, nas copas ou bases das árvores, no nível do solo, no ambiente terrestre úmido, escuro, rico em matéria orgânica. Além desse fato, algumas espécies se adaptaram a ambientes peridomiciliares, ou seja, muito próximos aos blocos e até dentro deles.

[Foto: Jhenifer Heinrich]

A incidência das picadas se mantém durante todo o ano, pois a proliferação dos pernilongos também persiste em todas as estações em Cuiabá – apesar de ocorrer principalmente no verão –, em razão do clima quente e úmido, conforme a bióloga e pesquisadora Ana Lúcia Maria Ribeiro. Para acompanhar a evolução reprodutiva dos pernilongos e a incidência dos “estorvinhos voadores” em cada bloco, a pesquisa desenvolvida pelas professoras mantém pontos de armadilha em todo o campus. [Confira no gráfico]

[Fonte: Comissão de Controle da dengue da UFMT]

Os riscos que os pernilongos aedes aegypti e os cúlex, presentes na universidade, oferecem são grandes. O primeiro, caso o inseto esteja contaminado, provoca dengue e febre amarela urbana, e o segundo tipo pode gerar elefantíase e leishmaniose.

Cálculo rápido da proliferação
Uma pernilonga vive de 35 a 40 dias. A cada dois dias a fêmea coloca, em média, 100 ovos. Contando que eles podem resistir em local seco até um ano e meio após a pernilonga depositá-los, no final de sua vida uma fêmea pode gerar até dois mil novos pernilongos! O negócio é prevenir mesmo.


Instituto de Linguagens
[Fotos: Jhenifer Heinrich]

Confira aqui dicas para eliminar os mosquitos.

Você, que não sente os pernilongos, também corre risco!
Uma pesquisa realizada em janeiro deste ano quis saber de alunos, professores e técnicos da universidade, o quanto eles se sentiam incomodados com os mosquitos. Foram entrevistadas 142 pessoas que frequentam o campus há mais de um ano e meio. Elas foram abordadas em todos os blocos da universidade, inclusive na Biblioteca Central, Reitoria e RU [Restaurante Universitário].

Os dados obtidos foram os seguintes: 114 deles responderam que se incomodavam absurdamente, chegando a perder sua concentração; 25 responderam que se incomodavam um pouco com os insetos e não chegam a causar desconcentração; e apenas três responderam que não se incomodavam. Para essas três pessoas que nada sentem e as outras 25 que não se incomodam tanto, há uma explicação: os pernilongos preferem pessoas com o metabolismo acelerado. Além disso, não são todas as pessoas que apresentam reação alérgica, aquela "coceirinha". São as fêmeas que precisam do sangue para o desenvolvimento dos ovos, enquanto os machos se alimentam da seiva de plantas.           

Para reduzir a quantidade de pernilongos dentro da UFMT focos precisam ser eliminados. As calhas dos prédios precisam ser limpas semanalmente, a poda das árvores deve ser frequente, a eliminação de outros focos com água parada em material orgânico e limpeza do campus [que já é feita] precisa ser intensa. Mas o dono do sangue que os pernilongos adoram também necessita fazer a sua parte. É aquele papo de sempre, de todas as campanhas de conscientização. A gente precisa.

Saiba mais
Conheça os sintomas da dengue: https://www.youtube.com/watch?v=27OtKGDJjGQ

Outras doenças também podem ser transmitidas pelo aedes egypt, fique atento.

Saiba mais sobre a febre chikungunya:

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