terça-feira, 8 de dezembro de 2015

IMPEDIMENTO: Você vai se posicionar?

ALINE COELHO

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deflagrou na quarta-feira passada (02) o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). O pedido aceito foi assinado por Hélio Bicudo (ex-petista), Miguel Reali Jr. (jurista) e Janaína Paschoal, professora de Direito da Universidade de São Paulo. Antes desse, 34 pedidos de afastamento da petista foram levados à Câmara. No cenário político nacional e pelas redes sociais, pessoas e grupos se posicionam sobre o assunto. Contudo, nas ruas, percebe-se a apatia popular. 

A estudante de Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Juliana Grou Silva, é contra o impeachment, mas ainda não se posicionou dessa forma nas redes sociais ou em conversas abertas, e nem pretende. “Eu não concordo com o impeachment porque as pessoas acham que o Brasil vai voltar a prosperar se a Dilma sair. Mas não é essa a solução para os nossos problemas políticos e econômicos. Só ela sair não vai mudar nada”, afirma a jovem.

"Não me posiciono para evitar conflitos, pois hoje em dia as pessoas não sabem se posicionar de forma respeitosa no mundo real ou no digital", diz Juliana
(Foto: Aline Coelho)
A falta de posicionamento público de Juliana acomete, também, governadores de Estado. Em matéria publicada nessa terça-feira (08), a Folha de São Paulo informou ter entrevistado os 27 governadores sobre o afastamento ou não da petista da Presidência. Desse total, 11 não declararam posição.

Mas grupos contra e a favor do processo de impeachment surgem a todo momento. Os que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff anunciaram um protesto para o dia 13 de dezembro. O objetivo do ato é pressionar os deputados a darem prosseguimento no Congresso ao processo de afastamento da presidente.

Existem ainda páginas na internet que pedem a assinatura para legitimar por meio do apoio popular o impeachment, como a criada na Change.org, com a chamada “Pressionando os parlamentares: Aprovem o pedido de impeachment da presidente Dilma”, que reunia 1.380.091 apoiadores do impedimento a presidente na manhã dessa terça-feira (08), vinculada à página Movimento Parlamentar Pró-Impeachment, que apresenta os argumentos para a impedimento da presidente como as pedaladas nas contas públicas, o abuso de poder econômico, dinheiro ilícito na campanha e a crise de credibilidade.

Argumentos frágeis para Bruna Uliana, também acadêmica da UFMT. “Não dá pra defender o PT, mas não existem denúncias de corrupção ou crimes praticados pela presidente”. A jovem esclarece que votou em Dilma no 2º turno da última eleição por pura falta de opção, mas apesar de não ser “dilmista” ou petista, confia que o processo de afastamento da presidente não vai dar em nada.

"Se eu perceber que essa situação vai avançar, eu vou me posicionar, vou pra rua", afirma Bruna
(Foto: Aline Coelho)
Com a mesma opinião que Bruna, cerca de 30 juristas apresentaram à presidente Dilma Rousseff e durante coletiva na última segunda-feira (07) argumentos técnicos contestando a consistência e a legalidade do pedido de impeachment impetrado contra ela na Câmara dos Deputados. Em outra ação de apoio à presidente, um grupo de políticos, formado pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex- governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, lançou também na última semana uma nova versão da Rede da Legalidade, contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo ato, o grupo lançou a página “Golpe nunca mais”, que recebeu 39.751 curtidas até a manhã dessa terça-feira (08). 

Literatura em Mato Grosso, em Mato Grosso?!

ARILDO LEAL

Homenagem ao poeta Adir Sodré
(Foto: Arildo Leal)
A literatura é, ao mesmo tempo, a memória do imaginário de uma determinada cultura que a projeta dos seus atuais sonhos mais íntimos para um futuro a ser construído, mas baseado em acúmulos passados – em sociedades já mortas. A diferença entre elas é vasta: leva-se em conta a cultura, as influências, a capacidade de renovação, bem como a preservação de certos valores clássicos em momentos específicos.  

Com a Literatura Brasileira produzida em Mato Grosso não é diferente: o seu desenvolvimento começa a tomar forma com a fundação de Academia de Letras Estadual (1932) por – dentre outros - Ulisses Cuiabano. A falta de informações, seja nas escolas, seja na grande mídia, é sentida facilmente. “Nós temos uma literatura muito boa, mas a própria faculdade de Letras não valoriza. Pensam que, por ser marginal, não possui qualidades”, declara Felipe Camargo, estudante do curso de Letras da UFMT.

Segundo a lei estadual nº 5.573 de 1990, deveria haver obrigatoriedade do ensino da disciplina de Literatura em Mato Grosso no segundo grau e da inclusão de sua temática na disciplina de Literatura Brasileira no primeiro grau, porém tal decreto não é executado nem no ensino superior.

“Sou de fora [Minas Gerais], e para ter contato sei que não poderei contar com aulas, o que é uma pena, pois deveria ser lembrada, principalmente os autores que estão surgindo – de modo a propagá-los”, relata Rebeca Zanon, estudante de Letras da UFMT.

Além da escassez de publicações nos jornais e da pouca presença nas rádios e TVs, dentro das Universidades somente na pós-graduação há um direcionamento para pesquisa em Literatura Regional. O que é um desperdício para um Estado que se propõe tão grande, a ponto de ter a capital do agronegócio, do Pantanal e até se candidatar para sediar eventos mundiais.

Instituto de Linguagens (IL), um lugar-chave na cultura regional
(Foto: Arildo Leal)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Epidermólise Bolhosa, uma vida debaixo dos panos

Ana Paula Santos
Jhenifer Heinrich

Não tem como evitar, como saber antes do bebê nascer e nem cura. Essas são algumas características da epidermólise bolhosa [EB]. É uma doença genética não contagiosa e muito rara. A falta de informação e conhecimento sobre a doença, principalmente pelos pais dos recém-nascidos, atormenta e causa a morte de muitos desses bebês. O tratamento é para aliviar a dor e tentar cicatrizar os machucados.

Mesmo com suas dificuldades, a epidermólise bolhosa é totalmente tratável. A EB é chamada também de doença da borboleta, porque os portadores da mesma possuem a pele muito sensível, como as asas das borboletas, além de ser totalmente coberta por bolhas que se tornam feridas. Dói para dormir, para tomar banho, para sentar, caminhar. Dói sempre.

A Tatiane é mãe do Vinícius de dez anos, portador da doença da borboleta. Vinícius nasceu em Rondonópolis, interior do estado. A mãe conta que, logo que nasceu, ele possuía uma pequena bolha em um dos punhos. Quando o bebê foi para casa, começaram a surgir mais bolhas pelo corpinho que mais pareciam queimaduras. Quando Vini, como é carinhosamente chamado pela família, mamava, ele tinha refluxo imediatamente, além de ter muita febre. Os médicos não conseguiram ajudar a família com o diagnóstico. Então foram para São Paulo, e souberam o que acontecia com o pequeno Vini. O diagnóstico foi dado à família cerca de um mês depois. Além disso, Vini passou por duas cirurgias no intestino, pois nasceu com o pâncreas abraçando o órgão. 


Tatiane conta que a vida não é fácil nem pra ela nem pro Vini, mas considera o nascimento dele um milagre. Além das cirurgias que enfrentou, convive com o corpinho cheio de feridas, mas afirma que leva uma vida normal. "Eu adoro jogar bola, e nunca deixei de fazer o que eu gosto por causa dos meus machucados". Vinícius tem tamanho e peso de criança de 10 anos. Além do mais, frequenta o ensino regular. Isso é uma vitória, pois, dependendo do tipo da doença, pode causar atrofia nas mãos e pés. 

Vida normal
Desde o maternal o pequeno frequentou escolinha. Na primeira escola, sofreu muito preconceito. Até pelo cuidado especial que Vinícius precisava, os pais então fizeram um abaixo assinado direcionado aos pais das outras crianças, que muitos não queriam o Vinícius convivendo com seus filhos. Preconceito real. Após isso, Vini foi estudar em uma escolinha evangélica e ficou lá até concluir o maternal. A mãe conta que o acolhimento da escola e os problemas sempre superados com pequenos e pacientes passos fizeram com que ela se convertesse à igreja, e diz que isso tem sido a base de todas as vitórias da família. Hoje, Vinícius estuda em uma escola também com base evangélica, que incita o amor ao próximo. A mãe diz que não podia ter acontecido algo melhor na vida dela e que se sente privilegiada em ter um filho como ele, em todos os sentidos. 

Falta de informação
No nosso Estado há somente dois casos registrados. As mães das duas crianças contam como sofreram assim que seus bebês nasceram com falta de informação e medo do que poderia vir e como a vida seria dali pra frente, como lidar com a enfermidade, por exemplo. 

SOS EB KIDS
Anna vive a vida com tudo que tem direito. Adaptou a casa e
o carro para conseguir sua independência.
Em Brasília existe a primeira assossiação do país, criada para ajudar e reunir casos de epidermólise bolhosa. A Anna Carolina Rocha (32) é portadora da doença, Assessora da entidade SOS EB Kids e relações públicas da APPEB (Associação de Parentes, Amigos e Portadores de Epidermólise Bolhosa Congênita), ela contou que o Vinícius é o primeiro caso com EB que eles tiveram contato aqui em MT e disse que felizmente a mãe (Tatiana) é muito interessada e dedicada ao tratamento. E completa que certamente não conhece outros casos aqui no Estado por falta de divulgação da doença e da associação, que poderia, óbvio, auxiliar essas pessoas. Anna é um exemplo de vida. Viaja muito, sorri muito, dá palestras sobre a maneira como supera as dificuldades da doença, mas lida com isso com maestria. É uma pessoa incrível e também a prova de que se pode viver normalmente sendo uma "borboleta". 

A SOS EB Kids identifica pessoas pelo país e arrecada remédios e os panos especiais que as crianças e adultos com a doença precisam usar para que os machucados doam menos e para que não fiquem tão expostos. 

A Doença
A pele humana é formada por duas camadas: a epiderme, camada externa, que representa um fator de proteção do corpo, e a derme, camada interna composta por vários tipos de tecidos que cumprem diferentes funções. Defeitos nas estruturas que unem essas duas camadas, ou na adesão entre as células da epiderme, podem acarretar lesões provocadas por um toque leve ou alterações climáticas. Saiba mais no site

Enfrentamento e Convívio
É importante que famílias que venham a enfrentar esta realidade saibam que a doença não impede que a criança leve vida praticamente normal e frequente escolas comuns da rede de ensino. Claro que os cuidados com os machucadinhos são necessários, mas nada impede de brincar, viajar, comer de tudo e ser feliz.

Conheça outro caso de epidermólise bolhosa de MT.

Regiões inteiras sem comunicação. Assim não pode, assim não dá.

Ana Paula Santos
Jhenifer Heinrich

Eram 10 horas da manhã, o sol já estava alto e da sala do escritório se ouvia a cidade em polvorosa. Imagine só, era segunda-feira! Banco pra fazer, e-mails para checar e ligações o esperavam desde a última tumultuada sexta-feira. A cidade estava novamente sem conexão com a internet, além de todos os telefones fixos estarem fora do ar. Assim não pode, assim não dá.

Pela segunda vez em menos de dez dias, Vila Rica, cidade localizada a 1.300 quilômetros da capital Cuiabá, fica sem sinal telefônico da operadora Oi e, consequentemente, sem conexão com a internet, já que é a única que disponibiliza esse serviço na região. Sistemas bancários, supermercados, farmácias, escritórios de contabilidade, pequenas e grandes empresas estavam ilhadas por mais de 24 horas seguidas. 

Moradores relatam que somente neste ano houve blecautes desses serviços por cinco vezes. Cinco vezes, e em nenhuma delas o serviço é restabelecido em menos de 12 horas. Isso somam 60 horas de isolamento, pois mais de 72% da população se comunica através da internet via computadores e celulares e 94% dos vilarriquenses que possuem algum aparelho celular são usuários da operadora Oi, 46% possuem chip da Tim e Claro e Vivo soma 14% de usuários. As quedas de sinal e reclamações não se restringem somente à Oi. Todas as operadoras deixam a desejar. Segundo Leonardo Borghesan, empresário no ramo de telecomunicações em Vila Rica, “não é de hoje que sofremos com a falta de estrutura da comunicação em nossa cidade e região. Muitas vezes, se Vila Rica tem sinal, Confresa ou Santa Terezinha, por exemplo, não têm. Nos dias em que ficamos sem sinal, o movimento na loja se intensifica de maneira irremediável, e não temos nada o que fazer. O número 10314 da Oi normalmente não informa a causa dos blecautes, e ficamos sem saber o que dizer aos clientes.”

No ano de 2014 as reclamações junto ao PROCON referente à telefonia fixa somam 1.306 e a telefonia celular, 1.192. Um aumento de 29,7% referente ao ano de 2013. Vimos a piora crescente dos serviços prestados junto à região Araguaia nos últimos meses. Lá praticamente para e fica incomunicável. Jean Annibal, 13, reclama que as operadoras Claro e Vivo nunca funcionam direito, “mas quando ficamos sem internet e sinal da Oi, é melhor que nada” comenta. A operadora Tim também não é muito bem quista na cidade, mas Jean afirma ser o único 3G que funciona consideravelmente bem.

Os moradores reclamam que não há aviso prévio da queda dos sinais. As reclamações têm sido constantes, pois a instabilidade no serviço de telefonia e internet é muito grande na região, e desde a última sexta-feira (30) a queda tem ocorrido diariamente com picos de acesso lento. Várias ligações de reclamações foram encaminhadas à operadora e o problema não foi solucionado. 


Para tentar inibir e resolver o problema, algumas operadoras disponibilizam espaços em seus sites para que os usuários possam informar os problemas que ocorrem e a frequência.




Ironizando a situação, alguns usuários ilustram em piadas o problema com o sinal.  

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Pesquisa na UFMT avalia a influência da família e da genética no tabagismo

O cigarro mata 50% de seus usuários e há um alto índice de novos fumantes entre os jovens universitários

THAYANA BRUNO

A pesquisa tem o objetivo de analisar a associação entre tabagismo, o nível de funcionamento geral da família de origem e a genética, é o que explica a médica pneumologista, Keyla Medeiros Maia da Silva. Keyla atua no Hospital Universitário Júlio Müller e o estudo é parte de sua tese de doutorado é desenvolvida na Universidade de São Paulo, em parceria com a UFMT e apoio da Universidade de Toronto.

O objeto da pesquisa são estudantes, técnicos e demais funcionários da UFMT. Na atual fase do trabalho se realiza a coleta dos dados. Para isso, são utilizados um questionário que pretende verificar lembranças e a influência da estrutura familiar para o fumo, a medição do nível de monóxido de carbono presente no pulmão da pessoa participante e a coleta de 10 ml de sangue para identificação da propensão genética para o fumo, os chamados marcadores de nicotina.

Sobre a medição do nível de monóxido de carbono no pulmão, a Keyla explica que o índice aceitável varia entre zero e seis. Acompanhamos o participante João Manoel de Sá, estudante do 5º semestre de Serviço Social, na realização do teste, e você confere o resultado no vídeo abaixo.


João se surpreendeu com o resultado, e acredita que a maior motivação para fumar seja a ansiedade. Seria uma compensação, um momento de alívio diante da tensão do cotidiano, como durante intervalo de aulas, do trabalho etc. Ele tem 20 anos e chega fumar até uma carteira de cigarro por dia. O estudante já parou de fumar algumas vezes, mas acabou voltando pela mesma razão. Pensa em parar de fumar como um plano para o futuro, mas crê que somente políticas públicas como campanhas educativas, de redução de danos e de acolhimento do serviço de saúde pública desses dependentes é que poderá obter resultados satisfatórios no combate ao tabagismo. “A política do governo tem sido voltada para oneração cada vez maior do cigarro, todo ano o imposto do cigarro sobe. Isso não inibe o fumo, isso só onera mais o trabalhador que fuma”. Pelo menos 14 dos 20 cigarros de uma carteira são para pagar impostos.
 
Dra. Keyla Maia e o estudante João de Sá realizam teste do monóxido de carbono.
(Foto: Thayana Bruno)
Fumar já não possui o charme que outrora emprestava credibilidade e glamour. O conhecimento das consequências à saúde para fumantes ativos e passivos chegou a criar um clima de vigilância e a suscitar a criação de leis antifumo, como o caso da lei federal número 12.546 regulamentada em 2014 (leia na íntegra aqui), que proíbe o fumo em ambientes coletivos, em que estejam duas ou mais pessoas. Proíbe também o fumo em ambiente que possua qualquer tipo de cobertura ou parede. “No entanto, é comum encontrar pessoas fumando nesses espaços, como em cantinas e saguões,” constata Keyla.

A pneumologista se diz bastante impactada com o grande número de fumantes na universidade, e o que a pesquisa tem revelado é o grande número de novos fumantes com idade entre 19 e 24 anos. “Tem muita gente fumando narguile, pensando que não é tabaco, fumando paiero com a justificativa de que é natural, mas cada paiero conta três cigarros industrializados. Ele é mais nocivo à saúde do que os cigarros industrializados”.

Estudante de Serviço Social - João Manoel de Sá
(Foto: Thayana Bruno)
Embora haja movimentos contrários, a pesquisadora observa que a veia contestadora e de autoafirmação desses jovens fazem com que fumem e não tenham a perspectiva de abandonar o vício, e declara que “uma das perguntas do questionário é se eles querem parar de fumar, e a grande maioria responde que não. Como se eles tivessem o domínio da situação. Na verdade, a dependência química é traiçoeira, e quando você percebe, está totalmente enlaçado. Parar de fumar é totalmente possível, mas dá um trabalho danado”.

A médica é incisiva ao afirmar que “o tabaco é um serial killer! Ele mata 50% dos usuários. Causa acidente vascular cerebral, infartos, mais de 20 tipos de tumores. É a única substância que é vendida hoje em prateleira, com registro na ANVISA, o órgão que regulamenta a saúde, que vai matar 50% das pessoas. Isso é uma aberração vivida no Brasil e no mundo. No máximo, isso deveria ser controlado e doado com supervisão como dependência química, e não ter a liberdade de entrar no boteco, sair com uma carteira de cigarro e ainda pagar imposto”. 

A pesquisa acompanhará 300 pares de fumantes e não-fumantes, um tabagista e seu controle, esclarece Keyla. O técnico de laboratório do HUJM, Alan Lewandovski, acompanha Keyla para a realização da coleta do sangue e se diz impressionado com o alto número de jovens fumantes com histórias familiares tristes. Ele afirma que a maioria é de jovens com idade de 18 a 24 anos. “Começamos a pesquisa prática na Universidade em julho e seguimos até o dia 4 de dezembro. Dos 300, faltam agora 36 pares.”
           
Há um serviço de tratamento para tabagistas no Júlio Müller que possui apenas dois ambulatórios, mas é aberto à população da capital. Mais informações poderão ser obtidas através do telefone (65) 3615-7238. 

Se você é fumante, quer parar de fumar e precisa de mais suporte informativo, acesse os links abaixo:

Rotina Acadêmica x Alimentação Saudável

A dieta dos estudantes na correria do dia a dia

ANA PAULA DOS SANTOS

Ao conciliar a universidade e o emprego, muitos estudantes se esquecem de fazer uma boa alimentação. Fazer no mínimo três refeições diárias é essencial para a saúde do corpo e da mente. Com a má alimentação, o rendimento acadêmico piora, pois o corpo necessita de energia. 

Rafael Cancian, 24, estudante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/Cuiabá), chegou a ganhar peso por não se alimentar na hora certa. O universitário conta que precisa conciliar sua carga horária de estudos com o trabalho. Como mora longe da Universidade, na maioria das vezes não tem tempo de fazer uma boa alimentação ao sair de casa. “Pra dar conta de tudo, eu acabo comendo besteira durante o dia, e quando me sinto indisposto, recorro ao famoso cafezinho”, afirma.

Opções de lanches na Cantina do Instituto de Educação da UFMT
(Foto: Ana Paula)
Carlos Eduardo Mafra, também estudante de Comunicação Social da UFMT, explica seus hábitos alimentares e os motivos pelos quais se alimenta dessa forma:


Já a estudante Thaís de Almeida Galvão, 23, que cursa Rádio e TV na UFMT, tem mais prudência quando o assunto é seu bem estar, mas admite que com a correria ainda recorre a lanches rápidos. Mesmo com a pressa do dia a dia, a universitária evita comer doces, guloseimas e refrigerantes. Ela afirma que conciliar a correria dos estudos com uma alimentação saudável é quase uma maratona. “Essa má alimentação inicialmente pode não mostrar sinais em nossa saúde hoje, mas com certeza, no futuro, podemos sofrer as consequências”, afirma a estudante.

A estudante combina as refeições com a prática de atividades físicas
(Foto: Ana Paula)
De acordo com o acadêmico de Nutrição Hugo Descher, 19, o cuidado com a alimentação, aliado ao exercício físico, é a melhor forma de prevenção de doenças. Para ele é importante comer a cada três horas e não pular as refeições. Em relação ao restaurante universitário da instituição, afirma possuir um cardápio adequado por conter todos os grupos alimentares: carboidratos, proteínas e opções de verduras e legumes. Porém, duvida que o modo de preparo das refeições seja adequado e assegura que o uso de óleo, industrializados e temperos como sal está fora dos padrões nutricionais. “Visto que a rotina acadêmica e as opções encontradas na universidade não contribuem para uma alimentação saudável, a melhor alternativas é organizar as atividades e encontrar tempo para preparar as próprias refeições”. Hugo procura sempre trazer algo saudável de casa, e quando não tem tempo para preparar seus lanches, opta por alguma fruta. 

Operação SoRia

Palhaços com a missão de levar amor ao mundo

KARINA CABRAL

Em 2009, Juninho Carvalho, um dos líderes do grupo, foi chamado para ir a uma escola em Belo Horizonte, chamada Terra dos Palhaços. Na escola, ele se encontrou dentro de seu palhaço, o Mocorongo, e, após a experiência, começou a fazer apresentações dentro de várias igrejas. Em uma dessas igrejas, uma senhora o convidou para ir até a Santa Casa com seu palhaço para entregar presentes de Natal. Nessa época, a Ideia do Palhaço dentro do hospital ainda não era popular, mas ele percebeu que a aceitação das crianças era muito boa. Então, em 2010, chamou alguns amigos, deu um curso de palhaços e começaram a ir para os hospitais, surgindo assim o Operação SoRia, com a intenção de levar o amor cristão ao mundo.

Grupo Operação SoRia
(Foto: Arquivo do Facebook)
Para entrar no grupo, em primeiro lugar precisa ter vontade de fazer o bem ao próximo. Depois, é necessário fazer um curso preparatório com a duração de três meses, sendo as aulas todos os sábados. O curso é aberto uma vez ao ano para os interessados, mas somente os líderes, Juninho Carvalho e Thainá Telles, ficam responsáveis pelas aulas. O restante do grupo permanece fazendo as visitas nos hospital. 
Estrela (Thainá Telles) e Mocorongo (Juninho Carvalho)
(Foto: Aquivo do Facebook)
Dentre as matérias do curso está a história do palhaço, a composição de figurino, maquiagem específica e o que fazer no hospital, para não correr risco de cometer algum erro com os pacientes. “A arte é talento, mas também é técnica. Você tem que saber lidar com o hospital, que é um ambiente de dor. Você tem que aprender a transformar essa dor em alegria”, afirma Elisa Calvete, uma das palhaças do grupo.


Elisa conheceu o grupo bem no começo através do líder Juninho, que participava da mesma igreja que ela. O grupo tem fundamentos cristãos, e em dos cursos de palhaço feitos na igreja ela resolveu participar. “Ser palhaço não é ser ator como muita gente pensa. Ser palhaço é ser você mesmo, usando suas qualidades e defeitos. O palhaço é um dos personagens mais humanos que existem”, diz Elisa. Com o tempo, o grupo entrou para as redes sociais e se tornou mais conhecido: hoje conta com 25 palhaços já formados, e dia 28 de novembro terão uma formatura para novos integrantes.

Nos dias de visitas, que são todos os sábados, eles se reúnem e decidem o que será feito. Chegam a ir até a três hospitais, caso tenham muitos palhaços no dia. Vários cuidados precisam ser tomados: os jalecos, por exemplo, são esterilizados e só são vestidos ao entrar no hospital; as mãos são lavadas antes de entrar em cada quarto e sempre tomam o cuidado de pedir permissão para entrar, pois a decisão é sempre do paciente. Desde a entrada do hospital, brincam com todas as pessoas ao redor, sem jamais sair do personagem, afinal, quando se coloca, o nariz cada voluntário se transforma em seu palhaço.

Pisquila (Ana Maria Addor) e Biju (Elisa Calvete)
(Foto: Arquivo do Facebook)

A Biju, personagem de Elisa, foi criada exaltando os gostos de sua criadora. Seu nome é Frances porque Elisa é apaixonada pela arte francesa. Seus trejeitos, o jeito de mexer a mãozinha, o figurino, a maquiagem e até seu nariz diferenciado remetem à sua criadora, seus defeitos e qualidades. “Você tem que pensar em você para pensar em seu palhaço. A Biju sou eu, mas sou eu sem nenhuma marra, sem nenhuma máscara. Fazer a Biju foi um processo de me conhecer, e cada vez que me conheço mais, ela melhora”, diz a voluntária.

Biju (Elisa Calvete) - Arquivo do Facebook
Apesar de trabalharem o ano inteiro aqui no Brasil, os líderes do grupo tiveram a ideia de fazer um mochilão para levar o projeto para outros lugares do mundo. Eles observaram que esse conceito de palhaços dentro do hospital só existia aqui no Brasil e nos EUA. No restante do mundo, a Palhaçaria, em geral, não era tão grande. Então, em janeiro de 2015, os palhaços saíram em viagem e foram para a Argentina, Paraguai e Uruguai, levando o amor cristão e o calor dos abraços brasileiros.


No dia 4 de janeiro, o grupo se prepara para uma nova aventura, e a palhaça Biju resolveu mandar uma mensagem:


Para saber mais sobre o projeto, acesse a página do grupo no Facebook e também o canal no Youtube.
               
               
               
                 


Feministas de Cuiabá organizam ato contra a PL 5069

BRUNA ULIANA

Neste sábado, 28, será realizado um ato de manifestação contra a PL 5069, projeto de lei de autoria do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), que dificulta o aborto legal em caso de estupro e o atendimento a vítimas de violência sexual.
Arte de Andréia Ribeiro sobre os efeitos da PL 5069

“A ideia partiu de um grupo de amigas, e surgiu a vontade de fazer um ato em Cuiabá. Por conta disso, a gente convidou os coletivos daqui, então vários deles compareceram na nossa primeira reunião. Veio o coletivo das Mulheres do Hip Hop, do Resiste MT, do Empodera, e todas essas meninas já estavam fazendo atos separados. Aí surgiu a necessidade de fazer algo conjunto, que seria contra o PL 5069, e a gente criou um coletivo, o Luta Pela Vida das Mulheres”, explica Sara Castillo, 26, uma das organizadoras do evento.

A movimentação para conscientizar as pessoas sobre a PL 5069 já começou. Ao longo do último mês, foram organizados eventos de panfletagem e colagem pelo centro da cidade, oficina de cartazes, grafitaço e rodas de discussão. “Ninguém acreditaria que em 2015 nós teríamos que lutar para não perder direitos que já foram conquistados. Acho que talvez por isso as pessoas não enxerguem a importância de ir pra rua para lutar por esses direitos”, diz Sara.

No vídeo abaixo, ela fala sobre a PL 5069:


“É um ato de mulheres, pela luta das mulheres. A gente também pretende dar visibilidade à produção artística feminina, então teremos artistas do grafite, do rap, meninas fazendo leituras”, complementa a jornalista Priscila Mendes, também organizadora do evento.
Aline Coelho da Costa
participará do evento.
 (Foto: Bruna Uliana)


A estudante Aline Coelho da Costa, 27, é uma das 240 pessoas que confirmaram presença na página de divulgação do ato. “Infelizmente, nós estamos em 2015, mas não existe equidade entre os gêneros. A gente precisa pensar em como a nossa sociedade está hoje e como podemos melhorar. Então é por isso que eu vou acordar às oito da manhã num sábado e vou lá pensar nisso com as garotas que estão propondo esse debate. É muito importante que aconteçam diversos movimentos nas redes sociais, mas tem que sair da internet e ir pra rua também. Essas pessoas que vão pra rua querem mudança, e isso é o primeiro passo”, reflete.


No dia do ato, a programação conta com a concentração às 9h na Praça Ipiranga, no centro da cidade. De lá, o grupo pretende sair em direção à Delegacia da Mulher, nas imediações da Praça Maria Taquara, e seguir para a Praça Alencastro. “A ideia não é simplesmente fazer passeata, mas de ocupação em espaços públicos e, principalmente, chegar com o nosso projeto na Delegacia, porque é um ato contra a violência”, conta Sara. 

Para saber mais sobre o Ato Pela Vida das Mulheres Contra a PL 5069, acesse a página do evento aqui.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um 'viva' ao feriado da Consciência Negra

LUIZA GONÇALVES
[Foto: escolanarcisomacedo.blogspot.com]
Sabemos que viemos de uma sociedade escravagista, e, por isso, carregamos resquícios da escravidão. Mas ainda em nossos tempos atuais podemos presenciar muito preconceito. A luta ainda não acabou, precisamos ainda correr atrás dos nossos direitos. Já que a própria Constituição nos assegura isso. Como tantas outras datas que fazem parte do nosso calendário, a Consciência Negra não poderia passar despercebida, até porque fazemos parte de uma nação diversificada.

De acordo com a estudante Joycy Ambrósio, do 5º semestre  de Jornalismo, "o dia é necessário porque, no mundo inteiro, existe uma raça dominante, que é o povo branco. Ainda hoje alguns tratam o povo negro como se fossem animais, então eu acho necessário o Dia da Consciência Negra para que haja uma conscientização".

Graças ao professor e pesquisador Oliveira Silveira, foi possível comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra. O mesmo escolheu o 20 de novembro, por ter sido o dia da morte de Zumbi dos Palmares, que ocorreu em 1695. Em memoria a Zumbi dos Palmares, ícone da resistência negra ante a escravidão, a data foi escolhida.

[Foto: http://www.blogdilmabr.com/no-dia-da-consciencia-negra-brasil-tem-muito-a-comemorar/]
Em 2003, a Lei Federal nº 10.639, incorporou o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário Escolar, exigindo o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares. Dessa forma, os professores devem incluir em seus programas aulas sobre: História da África e dos Africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. O site do ministério da educação (MEC) disponibiliza publicações sobre o tema.

O dia nacional da consciência negra ainda não é feriado nacional. Mas existe um projeto de lei tramitando no Congresso que busca instituir isso. O mesmo foi aprovado em outubro deste ano, e agora só está à espera da sanção da presidente.

Segundo o estudante Victor Vinicius, do 2º semestre do curso de letras da UFMT, " é uma data muito importante porque um povo não deve esquecer sua história. Não se trata de negros que foram escravizados, mas de seres humanos. Isto não deve ser esquecido na historia.

Sentir-se e aceitar o ponto de vista do negro e valorizar sua contribuição em todos os aspectos culturais não só diz respeito aos afros-descendentes. Porém, todos nós somos frutos de uma sociedade multicultural: a sociedade brasileira.

Lei de garantia a liberdade religiosa não é suficiente no Brasil

NAIARA LEONOR

[Foto: Naiara Leonor]

O Brasil é um país com população majoritariamente católica, mas são inúmeras as religiões praticadas. Dentre elas, pelo menos 15 são de origem africana, com as mais conhecidas sendo o Candomblé e a Umbanda. Desde que foram trazidas para o Brasil pelos negros escravizados, as religiões de origem africana sofrem com o estigma de culto ao demônio. A falta de conhecimento sobre os rituais e as crenças das religiões afro-brasileiras dão origem ao preconceito e aumentam a intolerância religiosa no país.

Joice Moraes, estudante de Publicidade e Propaganda da UFMT, diz não conhecer muito sobre essas religiões, mas sabe alguns nomes. “Sei que existe Candomblé, que é baseada na crença dos orixás e que alguns deles são representados por santos católicos também”. Sendo agnóstica [aquele que acredita em algo sobrenatural, mas não tem religião], ela diz que não tem preconceito e que respeita as religiões africanas, como qualquer outra.

Mas atitudes de respeito como a de Joice não são unânimes no Brasil, que, apesar de um país de múltiplas religiões, tem inúmeros casos de intolerância religiosa.

Segundo informações divulgadas em relatório preliminar da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa (CCIR), de janeiro de 2011 a junho de 2015, o Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República recebeu 462 denúncias sobre discriminação religiosa.

O número de registros ainda é pouco representativo, pois as vítimas do preconceito contra a própria religião não chegam a fazer a denúncia por medo de retaliação. O estudante de Jornalismo, Demetrinho Arruda, que é católico, confessa que já teve preconceito com religiões como Candomblé e Umbanda, mas que hoje pratica a tolerância religiosa. “Antes eu não tinha conhecimento, então tinha aquele típico pensamento preconceituoso. Mas hoje tenho mais informação sobre o assunto, respeito todas as religiões e sei que é uma questão cultural também”.

[Foto: Reprodução / Ilustração]

O direito de livre crença e a liberdade religiosa é assegurado no Brasil pelo artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal. Além disso, há também dois artigos da Lei nº 12.288/2010 (Estatuto daIgualdade Racial), que defendem especificamente a liberdade de crença em religiões com matriz africana.

A radialista Karina Figueredo, umbandista há mais de quatro anos, relata que nunca sofreu o preconceito diretamente, mas que sabe que ele existe. “Descobri a religião através de uma amiga. Depois de ir a primeira vez ao centro, comecei a frequentar e cheguei a realizar trabalhos por quatro anos. Hoje não sou mais tão assídua, mas tenho minha fé e pratico os rituais. Nunca sofri com o preconceito diretamente, mas já fui aconselhada a não expor minha religião onde trabalho, por exemplo”.

Karina também acredita que a falta de conhecimento é a maior causa do preconceito e intolerância religiosa. “No caso da Umbanda, por exemplo, as pessoas confundem com a Quimbanda, que se utiliza de magia negra. Umbanda não tem nada disso. O real significado da palavra é na verdade ‘fé, esperança e caridade’. Até o significado de macumba foi deturpado”. Ela explica que macumba, na verdade, é o nome do tambor tocado nos centros de Umbanda.

Como forma de promover a paz, o respeito e o combate ao preconceito contra as religiões, instituiu-se a Lei nº11.635/07, que define o dia 21 de janeiro como o "Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa".

Um intercâmbio de amor, cultura e alegria: África-Brasil

Dica: Leia ouvindo Axé Odô ou Canto para Oxum ou ainda A deusa dos Orixás. Boa leitura :)

JHENIFER HEINRICH

A existência da escravidão no Brasil durante quase 400 anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou também a formação cultural. E quando se fala de cultura, não tem como não pensar em música. E ela vem como a expressão de liberdade que a cultura negra possui, e isso foi impresso na cultura brasileira que persiste, entre “trancos e barrancos” até hoje no Brasil.

Rita Domingues é
professora de Música e
doutoranda no Ecco.
[Foto: Jhenifer Heinrich]
Para a professora de música Rita Domingues, a influência da música negra no brasil é muito rítmica e permeia a música popular brasileira em 90%. Além disso, influenciou também a nossa música erudita. Novidade? A primeira música com a presença nítida da cultura africana é a música “Batuque”. A professora cita ainda o Movimento do Nacionalismo, na Semana de Arte Moderna, a cena erudita brasileira em que os artistas procuravam usar questões que sinalizassem o Brasil. É aí que a música africana entrava, além de ser precursora do samba, claro.

Augusto Krebs é músico e
compositor.
[Foto: Arquivo pessoal]


Para o músico e compositor, ex-aluno de Música da UFMT, Augusto Krebs, “nossa música se distingue da música de outros povos pela mistura que acontece aqui. E é lógico que a música africana, que veio aportar através das práticas religiosas nos terreiros embalados por rituais cheios de dança e música vigorosa, é perceptível em praticamente tudo que é música feita por aqui. O mesmo ocorreu com a música europeia, chegou aqui através da religião, mas é interessante que a música trazida pelo povo africano carrega uma força sem igual, talvez por tentar traduzir sonoramente a força das divindades do panteão africano. O Brasil é negro, a África está entranhada nas células rítmicas, nos motivos melódicos da nossa música”. 

O africano faz festa. Esta é sua característica: sua alegria. Em relatos históricos e lembranças dessas pessoas vindas da África, é clara essa “cultura da festa”. Cortejos de Reis são festa na África, a passagem para a puberdade é festa, o trabalho é festa, no final do dia tem festa. E o brasileiro herdou isso, não é à toa que somos vistos como um dos povos mais “quentes”, alegres e receptivos o mundo. Em Cuiabá mesmo, se caminharmos no centro da cidade percebemos a presença de algumas dezenas de senegaleses que trabalham como ambulantes ouvindo música africana, muito parecida com o axé da Bahia. Na África, os cortejos de “reis do Congo”, na forma de congadas, congados ou cucumbis, influenciaram a espetaculosidade das procissões católicas do Brasil colonial e imperial, constituíram, certamente, a velocidade inicial dos maracatus, dos ranchos de reis (depois carnavalescos) e das escolas de samba – que nasceram para legitimar o gênero que lhes forneceu a essência do Brasil.  
Segundo Nei Lopes, escritor, compositor e pesquisador de música popular brasileira, as matrizes africanas que contribuíram para moldar a cultura e a música brasileira passam das congadas ao samba, pelos afoxés e blocos afro, onde a presença de elementos musicais e religiosos provenientes da África é marcante na nossa história, como ainda hoje se evidencia nas escolas de samba e nos sambas-enredo. Mas atualmente se constata também uma progressiva desafricanização da música popular brasileira, o que aponta para o fenômeno da globalização do gosto. Mas, da mesma forma que essa “desafricanização” ocorre, vários grupos formados por africanos e não africanos se unem para não deixar morrer, literalmente, a cultura africana no Brasil, tão importante para definir o que é o Brasil hoje. Irônico, né? Fazer parte da origem da cultura brasileira e estar “sumindo”...
O Coletivo Negro Universitário UFMT é um desses grupos. Idealizado na Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá, o grupo se reúne frequentemente e faz ações de resgate à cultura afro. Haitianos, africanos, brasileiros, todos fazem parte do conjunto que leva dança, música, história e poesia para quem quiser ver e sentir essa arte e esse amor. Segundo Zizele Ferreira, coordenadora do Coletivo, o propósito do grupo é tratar de "Consciência" enquanto aspecto político. “A Consciência negra é fruto gerado por ações antirracistas e a partir de relações sociais estabelecidas por processos históricos diferentes e coletivos. Além de estudantes africanos de diversos países, temos hoje haitianos residentes em Cuiabá celebrando a independência de seu país e outras frentes negras da nossa universidade.”

Ao ouvir “Quilombo Axé” da banda Afoxé Oyá Olaxé, é nítida a presença do nosso samba. Tão africano e tão brasileiro. O agogô, de origem africana, é um dos instrumentos característicos do samba brasileiro. Veja vídeo. Representando a dança, luta e música africana temos a capoeira. Veja o vídeo de um grupo de capoeira de Cuiabá-MT.

Dá pra comparar?
Se formos falar de música atual africana e música atual brasileira e traçarmos um paralelo, olha só o que a gente encontra:

Música brasileira de 2006: https://www.youtube.com/watch?v=6QKk5gU-CDI
Música brasileira de 2000: https://www.youtube.com/watch?v=K0XfjhNXM_c
Música brasileira de 2011: https://www.youtube.com/watch?v=-zphtZzsSl4

Música brasileira de 1996: https://www.youtube.com/watch?v=n8QJrkIghaY

Tanto o som quanto a dança, são muito parecidos! Isso é apenas um resquício da influência do intercâmbio África-Brasil. “Se tentou, através dos tempos, forçar uma colonização do pensamento. Na música, até hoje, se tenta isso de forma muito frequente. Só que hoje temos um eufemismo para isto: denominamos a questão como sendo mercadológica, midiática e outros nomes e termos acadêmicos bem bonitos, mas isso não muda o fato de que existe uma tentativa de se adestrar, docilizar o pensamento para obedecer a determinadas formas e concepções de realidade, de mundo. O mesmo não ocorreu com a música brasileira. Ela agrega tudo e o todo que for possível. A música brasileira abraça as causas, mas tem o vocabulário africano como elemento primário, a mãe África que abraça seus filhos desde o princípio dos tempos”, conclui Gustavo Krebs.