Entre café da manhã e jantar, temos uma dança de cadeiras
DEODATO RAFAEL
JONY CÉSAR
Na última quarta-feira (09), o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) tomou uma posição ambígua: pela manhã, membros do partido tomaram um “café da manhã” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à noite se reuniram com membros do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) para um jantar. Afinal, o PMDB é situação ou oposição ao governo?
JONY CÉSAR
Na última quarta-feira (09), o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) tomou uma posição ambígua: pela manhã, membros do partido tomaram um “café da manhã” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à noite se reuniram com membros do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) para um jantar. Afinal, o PMDB é situação ou oposição ao governo?
Na última semana, o ex-presidente Lula sofreu condução coercitiva para depor na sede da Polícia Federal em São Paulo, por ordem do juiz Sérgio
Moro, do Tribunal de Justiça Federal do Paraná. Este fato causou uma grande
movimentação no cenário político e econômico do pais, ações da Vale e Petrobrás
subiram, a Bovespa fechou em alta e o dólar e o euro caíram. O ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF), Marco Aurélio Mello, se mostrou contra o modo de condução coercitiva do
ex-presidente para o depoimento.
Lula foi acusado de falsidade ideológica e ocultação de patrimônio, que é uma modalidade de lavagem de
dinheiro. Como o ex-presidente não possui nenhum cargo público, está sendo
julgado como uma pessoa comum e pode ter a prisão preventiva decretada a qualquer
momento, sem a necessidade de ser condenado.
Vendo estes fatores surgirem, a presidente Dilma Roussef convidou, na última terça-feira, o ex-presidente para um
jantar e ofereceu-lhe um convite par ocupar algum cargo-chefe, mais
especificamente a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) ou Secretaria de
Comunicação (Secom) do Governo Federal. Se aceitar, ele terá foro
privilegiado, ou seja, seria julgado pelo STF, que poderia
ou não aceitar os documentos das investigações realizadas no Paraná.
Lula, por ora, resiste em aceitar o convite. Seria uma confirmação de “culpa” nos casos em que foi acusado. O vice-presidente Michel Temer não se pronunciou
oficialmente sobre o caso envolvendo o ex-presidente.
Outro fator importante será a
maratona de manifestações que ocorrem no Brasil hoje (13). Se
Lula aceitasse a proposta poderia haver uma grande pressão popular para
atingir o governo.
Dentro deste cenário, o PMDB atua
como peça fundamental. Com o vice-presidente Michel Temer na base do governo,
supostamente o partido estão do lado do PT para mudar o cenário político atual.
Porém, ações ambíguas mostram uma certa ruptura com o próprio
governo, criando ainda mais instabilidade política.
Para o professor do curso de
Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Paulo da Rocha Dias, o PMDB
“é a pior coisa que existe no Brasil”. Ele afirma que o partido se mostrou contra as posições tomadas
anteriormente pela sua chapa, marcando uma suposta traição do PMDB ao governo. “Ontem eles tomaram um café da
manhã com o Lula e deram de presente para ele uma Constituição, um presente que
é totalmente ambíguo. O que isso quer dizer? Tomam café da manhã com
o Lula e jantam com o PSDB. Por quê? 'O governo mudando ou não, eu [PMDB] estarei
do lado dele'. Todos os vícios da política brasileira existem no PMDB”.
Porém, Paulo da Rocha menciona
que existem pessoas boas no partido, como Roberto Requião (PMDB-PR) e Pedro
Simon (PMDB-RS), mas, por serem poucos, acabam não fazendo a diferença. “Essas
pessoas vieram do antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que era de
oposição à ditadura. Mas do MDB não resta quase nada.
Se olharmos um pouco o histórico
econômico, podemos mostrar que essas movimentações influenciam diretamente a
economia do país. Isso se deve ao fato de nossas estruturas políticas serem
centradas no Estado. Para o Professor doutor Joel Paese, do Departamento de
Sociologia e Política da UFMT, este modelo de estrutura político-estatal muda o
rumo da vida dos cidadãos a cada simples menções ou especulações políticas. “O atual quadro político passa
por modificações, e essas modificações e mudanças sociais, devido a alguns
fatores que marcam a nossa política há alguns anos, podem causar algumas
bifurcações [mudanças nas esferas politicas e sociais]. Isso combinado a um
esgotamento de um modelo econômico baseado no protagonismo do Estado que hoje
se manifesta em inflação, relativamente descontrolada, crescimento econômico
negativo, gerando pressões na base social do pacto político forjado nos últimos
13 anos, altera os fatores políticos. Agora, quais serão essas
mudanças não há como prever, mas podem surgir novas alianças.”
Este modelo político leva a
mudanças drásticas na sociedade muito mais fortes do que em outros governos que
centram a sua política no mercado, como fator “dinâmico e articulador das
relações sociais e políticas. O Brasil historicamente, desde sua origem, é
centrado no Estado. Ele é o protagonista social, político e econômico”. O
pesquisador encerrou dizendo que, nesta estrutura, temos uma cidadania e uma
economia tutelada pelo Estado.
Ações como a do PMDB, de se
relacionar e fazer e desfazer alianças constantemente, afetam a vida e o
cotidiano de cada cidadão. Por isso, ações pró e contra o governo e a pressão
do judiciário tornam ainda mais difíceis as mudanças e reestruturações que o
país está tentando fazer para voltar a crescer.
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