sábado, 2 de abril de 2016

O jornalismo enquanto defensor de direitos

CAMILLA ZENI

Há tempos, as reportagens jornalísticas servem como embasamento para iniciar inquéritos e investigações, colaborando com a cidadania e a defesa dos direitos dos cidadãos. Informar, lutar pela liberdade de expressão e denunciar são alguns dos deveres da profissão, previstos no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, atualizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em 2007.

Em 2015, o site de notícias MidiaNews produziu uma reportagem especial abordando a intolerância religiosa existente no Estado. Na matéria Crimes motivados por intolerância assustam religiosos em Mato Grosso, foram denunciados dois atentados, que aconteceram em menos de uma semana, contra centros espíritas, sendo um de práticas umbandistas. Os dois templos religiosos, um localizado em Cuiabá e o outro em Rondonópolis (212 km ao sul da capital) foram incendiados por vândalos.

Após a reportagem, veiculada no domingo, 9 de agosto, se passaram apenas quatro dias até que o Governo do Estado, na quinta-feira (13), por meio da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), efetivasse a criação de um setor específico para combater esses crimes, conforme reportagem do MídiaNews.

Prof. Ms. José da Costa Marques Filho fala sobre o caráter
social do jornalismo
(Foto: Camilla Zeni) 
Para o José da Costa Marques Filho, professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, esse é o caráter social da profissão de jornalista. “Além da parte técnica, na faculdade, há uma preocupação com a formação cidadã e política do aluno de Jornalismo. Exatamente para que ele tenha uma compreensão do seu papel social e político na sociedade, incluindo a defesa de direitos de minorias, das liberdades fundamentais do cidadão, que são direitos assegurados, inclusive previstos na Constituição. Isso deve nortear sempre a atividade do profissional de Jornalismo”, afirma.

Na Constituição Federal também é estabelecida como direito do cidadão a liberdade de expressão, mas atitudes agressivas e palavras ofensivas não se enquadram, e são classificadas como crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Ainda assim, ataques que assumem caráter de intolerância - especialmente de caráter religioso - eram vistos de maneira equivocada e sem importância.

O secretário da Sesp à época, Mauro Zaque, se manifestou contrário aos crimes cometidos e repudiou os atos de vandalismo. “Não iremos tolerar esse tipo de ação. Somos um povo livre, não aceitaremos nenhum tipo de discriminação religiosa”, afirmou.

No caso do incêndio na Casa Espírita Virgem Imaculada Conceição, de Cuiabá, o Boletim de Ocorrência fora registrado como “furto”. Depois, com a criação do setor especializado, Mauro Zaque disse que as investigações passariam a ser realizadas com mais critérios e de maneira mais rigorosa.

Vinícius Lemos, jornalista do
site MídiaNews
(Foto: Camilla Zeni)
O jornalista Vinícius Lemos, autor das reportagens do site, afirma que redigir a segunda notícia foi satisfatório. “Fiquei muito satisfeito em ver que uma providência foi tomada rapidamente”, disse. “É muito importante para o jornalismo utilizar esse poder que ele tem, essa voz ativa, para promover o bem-estar da sociedade, para resolver questões que precisam ser sanadas”.

Para o coordenador de curso, cabe à imprensa apurar a fundo todas as questões. “Se de um lado poderia ser um simples furto de bens materiais, do outro deveríamos considerar as questões de intolerância, sim, já que se tem percebido um aumento desse crime em todo o mundo, principalmente no Brasil, e mais evidente ainda relacionado às religiões africanas. Denunciar e fiscalizar para que as autoridades tomem providências é uma forma de evitar que a situação não tome uma dimensão muito maior e mais preocupante”, finaliza. 

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